Embora o potencial carcinogênico dos microrganismos seja reconhecido há muito tempo, sua importância pode ter sido subestimada. De acordo com pesquisadores iranianos, a microbiota pulmonar pode servir como um indicador do estado de saúde dos pulmões, com base em seu papel crucial na preservação da hemostasia pulmonar. Para ampliar a compreensão desse rico ecossistema, o grupo desenvolveu um estudo de revisão científica que investigou como a composição e a função do microbioma pulmonar podem influenciar o desenvolvimento do câncer de pulmão.
O estudo analisou trabalhos com indivíduos saudáveis e pacientes com doenças não cancerígenas. Além disso, foi avaliada a função do microbioma pulmonar em pacientes com câncer de pulmão. De acordo com os autores, os microbiomas humanos desempenham papéis fundamentais na modulação das funções do hospedeiro. “Dados conclusivos de estudos em humanos e animais indicam, por exemplo, que a microbiota pode desempenhar um papel na iniciação do câncer”, observam os autores. Esta ação é influenciada por fatores internos e ambientais. E no pulmão, que abriga seu próprio microbioma, isso não é diferente.
Evidências
Entretanto, os pesquisadores lembram que, apesar dos avanços nas tecnologias ômicas que facilitam o estudo do microbioma do câncer de pulmão, é preciso cautela na condução e interpretação de experimentos. No entanto, dados iniciais promissores ressaltam a importância de uma investigação completa sobre o microbioma desta neoplasia. Desta forma, será possível explorar seu potencial objetivando melhorar as estratégias terapêuticas contra essa doença – muitas vezes letal.
“Em geral, parece que a diversidade do microbioma em pacientes com câncer de pulmão é reduzida”, sugerem os autores. Em um dos estudos avaliados na revisão, por exemplo, observou-se que alguns gêneros microbianos foram aumentados em pacientes com câncer de pulmão em comparação com uma população sem câncer, como Streptococcus. Enquanto isso, outros gêneros como o Granulicatella adiacens foram diminuídos.
Associação entre microbioma e carcinogênese
Neste estudo, os pesquisadores oferecem uma visão geral abrangente do envolvimento do microbioma no câncer de pulmão. “Técnicas avançadas de sequenciamento confirmaram a existência do microbioma nas vias aéreas inferiores, desafiando suposições anteriores”, afirmam. Nas análises, foi identificado que há evidências consideráveis apoiando a probabilidade desta conexão, indicando inclusive potenciais implicações terapêuticas. Entretanto, o significado patológico varia de acordo com hospedeiro, biologia pulmonar e exposição microbiana. Desta forma, a eficácia da modificação do microbioma para prevenir a carcinogênese ou tratar o câncer ainda não foi demonstrada conclusivamente.
De acordo com os autores, é necessário ter atenção urgente para abordar desafios como seleção de espécies, métodos de extração de DNA e tecnologias de análise. “Há muito a ser totalmente compreendido, uma vez que a pesquisa sobre a relação microbioma-carcinogênese ainda está em fase inicial”, destacam. A conclusão da revisão, portanto, é que estudos futuros em larga escala devem apresentar novos insights sobre a prevenção e o tratamento do câncer de pulmão. O artigo ‘A perspective on lung cancer and lung microbiome: insight on immunity’ foi publicado em janeiro de 2025 na Wiley Online Library.
