A expectativa de vida no Brasil alcançou 76,4 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento crescente da população idosa tem provocado mudanças na estrutura e nas dinâmicas familiares. O que antes era considerado um período de despedida se transformou em uma fase ativa e significativa, com desafios e oportunidades. Um dos destaques é o impacto psicológico da longevidade nas relações familiares e afetivas entre idosos, sucessores e cuidadores.
De acordo com a psicóloga Izabella Melo, professora de Psicologia do Centro Universitário de Brasília (CEUB), a relação com o tempo muda, trazendo reflexões sobre qualidade de vida e autocuidado. Assim, a velhice deixa de ser um período final e passa a ser uma fase ativa e significativa. “Com planejamento e suporte adequados, esse pode ser um momento de aprendizado para toda a família”, comenta.
Institucionalização
A ciência também tem sido desafiada a acompanhar essa nova realidade, pois, com a população idosa crescendo surgem pesquisas em áreas como Economia, Sociologia, Medicina e Ciência Política. No âmbito psicológico, as famílias enfrentam desafios emocionais e práticos ao conviver com várias gerações sob o mesmo teto. Embora algumas optem por hospedar idosos em casa especializadas, a decisão ainda carrega estigmas.
“No Brasil, há um estigma muito forte em relação à institucionalização desse modo da vida”, pontua a psicóloga. Isso ocorre porque muitas pessoas veem essa atitude como abandono, negligência ou falta de cuidado, mesmo quando essa escolha é feita com base na qualidade do suporte oferecido. Com essa cultura do cuidado, muitos idosos permanecem no convívio familiar até o fim da vida.
Desafios
Apesar de a integração do idoso no lar trazer benefícios, como o compartilhamento de experiências, também acarreta desafios. Os conflitos podem surgir devido a diferenças de valores e costumes, além da dificuldade de adaptação às novas tecnologias – o que afeta a comunicação e a interação cotidiana.
Além disso, as doenças relacionadas ao envelhecimento como osteoporose, demência e Alzheimer impactam a rotina e exigem maior suporte dos familiares. Fatores socioeconômicos também afetam diretamente a longevidade e a qualidade de vida. Assim, pessoas que tiveram melhores condições de saúde, trabalho e acesso a serviços médicos ao longo da vida costumam envelhecer com mais qualidade.
Vínculo entre avós e netos
Um dos aspectos mais enriquecedores da longevidade é o vínculo entre avós e netos. Quando os avós vivem mais e com maior autonomia, o impacto emocional dessa relação pode ser profundo. A qualidade desse vínculo depende, ainda, da relação construída ao longo dos anos. Pesquisas mostram que laços saudáveis tendem a se manter positivos, enquanto relações conflituosas podem continuar difíceis.
De acordo com a psicóloga, os avós atuam como guardiões da memória e da identidade familiar. “O convívio permite que netos tenham contato direto com testemunhas vivas da história da família. Isso tende a fortalecer laços emocionais e a proporcionar uma visão mais ampla sobre sua própria origem”, reforça. Para os avós, essa interação é uma oportunidade de refletir sobre seus legados emocionais, morais e materiais.
