A Food and Drug Administration (FDA) – órgão regulador de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos – define cosmético como ‘um produto (excluindo sabão puro) destinado a ser aplicado ao corpo humano para limpar, embelezar, promover a atratividade ou alterar a aparência’. Esta definição se aplica a produtos para pele, cabelo e cuidados bucais, mas não inclui alegação de saúde. Entretanto, há um aumento crescente do interesse científico sobre o papel dos probióticos para possíveis aplicações cosméticas e de cuidados pessoais.
Para avaliar essa tendência, pesquisadores canadenses desenvolveram uma revisão que explora o mercado, aspectos regulatórios e possíveis aplicações de probióticos na indústria de cuidados pessoais. “Existem inúmeros estudos que fornecem evidências dos benefícios de cepas probióticas específicas para a saúde da pele”, afirmam. Além disso, os mecanismos antienvelhecimento sugerem que as cepas podem ajudar a regular o pH, reduzir o estresse oxidativo, proteger do fotoenvelhecimento e melhorar a função de barreira da pele.
De acordo com os autores, já foi demonstrado que os probióticos administrados por via oral afetam o microbioma intestinal, levando a uma potencial melhora nas condições da pele, como dermatite atópica, acne ou rosácea. Estudos iniciais sugeriram, ainda, que o uso de probióticos durante a gestação e o início da vida pode ajudar a reduzir a incidência e a adversidade da dermatite atópica, implicando na modulação imunológica e melhorando a função de barreira intestinal em amadurecimento.
Desafios
“No entanto, é um desafio para a indústria de cosméticos criar fórmulas tópicas que retenham a viabilidade bacteriana probiótica desde a produção até a cadeia de valor e para o consumidor”, acentuam os autores. Uma das dificuldades está relacionada à umidade, que permitiria que os microrganismos secos se hidratassem e se multiplicassem ou morressem.
Portanto, formulações à base de óleo seriam mais adequadas para os cuidados pessoais. Os cientistas explicam que, nestas formulações, os microrganismos poderiam emergir do óleo uma vez colocados na pele. “A partir daí, ficariam metabolicamente ativos o suficiente para fornecer os efeitos probióticos necessários”, acentuam.
Entretanto, muitos cremes não são produzidos em condições estéreis e os conservantes são frequentemente adicionados com efeitos bactericidas e/ou bacteriostáticos. “Estes conservantes podem, potencialmente, não apenas afetar a viabilidade da cepa probiótica, mas também alterar inadvertidamente a microbiota do receptor”, destacam.
Conclusões
De acordo com os autores, será necessário ampliar os conhecimentos microbiológicos e químicos para garantir que cosméticos de alta qualidade com probióticos cheguem aos consumidores. “Não há dúvida de que a modulação de microrganismos pode levar a novas maneiras de melhorar a aparência e o bem-estar”, finalizam. O artigo ‘Probiotics in cosmetic and personal care products: trends and challenges’ foi publicado em 2021 na revista Moléculas.
