Um levantamento divulgado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade de Informação (Cetic.br) indicou um aumento significativo na quantidade de crianças de até 8 anos que possuem celular próprio e acesso à internet. Essa constatação preocupa pediatras e profissionais da saúde, pois o uso de dispositivos eletrônicos em excesso pode estar associado ao aumento de casos de dores nas mãos em crianças e jovens.
Nos últimos cinco anos, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou 10.688 atendimentos ambulatoriais na faixa etária dos 7 aos 17 anos com diagnóstico de tenossinovite e sinovite. O número de casos cresceu 32,3% entre 2020 e 2024, segundo dados do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIASUS). Neste período, o Estado de São Paulo liderou os atendimentos, com 3,4 mil casos.
Dor ao mover os dedos, sensibilidade ao toque e inchaço podem representar sintomas da tenossinovite. Essa condição também se manifesta com rigidez articular e sensação de calor na região afetada. Já a sinovite é a inflamação da membrana sinovial – tecido que reveste as articulações e produz o líquido lubrificante (líquido sinovial). A inflamação causa inchaço e dor.
De acordo com o médico ortopedista e traumatologista Rui Barros, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM), o uso constante das mãos para digitar, rolar a tela ou segurar o celular pode contribuir para o surgimento de dores nas mãos. Em algumas situações, esse uso excessivo gera sobrecarga das estruturas do sistema musculoesquelético.
“Sinais claros de inflamação nos tendões, músculos e estruturas periarticulares não são comumente observados em crianças e jovens”, explica o médico. Mas, eventualmente, podem estar presentes e resultar em variados graus de dificuldade de movimentação das mãos. Embora não haja comprovação científica robusta, o uso excessivo de dispositivos móveis é um possível fator de risco para as dores nas mãos.
Dedo em gatilho
Embora mais comum em adultos, o chamado ‘dedo em gatilho’ tem sido registrado em crianças e adolescentes. O número de atendimentos ambulatoriais no SUS, na faixa etária entre 7 e 17 anos, foi de 288 em 2020 e chegou a 566 em 2024 – um crescimento de 96,5% no período. “Movimentos repetitivos realizados durante a digitação ou navegação nas telas podem, em alguns casos, sobrecarregar os tendões das mãos, levando à dor e eventual inflamação”, comenta o médico.
Por causa disso, é essencial controlar o uso de dispositivos eletrônicos e incentivar a mudança de hábitos na fase infantojuvenil. Ademais, deve-se estimular atividades que promovam o movimento natural das mãos, como esportes, brincadeiras ao ar livre e até mesmo a escrita manual, que exige uma variação maior dos movimentos.
“Precisamos alertar os pais sobre esses riscos. As mãos são essenciais para praticamente todas as atividades diárias, e lesões nessa região podem ter impactos duradouros”, conclui o médico. Portanto, criar hábitos saudáveis no uso da tecnologia pode evitar problemas futuros para essa geração.
